Este livro é um testemunho da recepção e do uso da obra de Frida em nível social e espiritual, dando forma escrita às múltiplas releituras e inscrições pessoais deste acervo visual a partir da pergunta pela sua relação com a teologia feminista. As diferentes respostas a esta pergunta aberta rompem convenções em seus referentes disciplinares, culturais e humanos assim como em seus estilos de escritura, que abarcam desde o acadêmico até o testemunhal, o poético e o irônico. Esse rompimento e encontro do outro consigo mesmo, estimulado pela produção de Kahlo, desata uma criatividade que enriquece as possibilidades de significação da obra desta artista, e ao mesmo tempo reforça seu valor estético, sua polissemia e seu poder de convocação através do tempo, e em particular em nossa contemporaneidade tão complexa e contraditória. E talvez neste sentido nos dá exemplos para explicar, não desde a mercadotecnia mas desde a necessidade espiritual contemporânea, as longuíssimas filas para as exposições recentes de Kahlo, de onde se tem a idéia de ter-se convertido em uma presença objeto de peregrinação, juntamente com o sem-fim de "altares" particulares alusivos à artista que indivíduos muito diversos montam in situ ou em linha por meio de reproduções e recriações verbais e visuais.