À semelhança de um thriller, a prosa envolvente de Dave Zirin conduz o leitor pelos fascinantes bastidores das Copas e das Olimpíadas do mundo contemporâneo. Brasil, Canadá, Rússia, África do Sul e Catar surgem com suas belezas naturais plasmadas pela corrupção, gestão inepta de recursos e pelo desinteresse pelas populações locais. Espetáculos produzidos para a televisão, os grandes eventos esportivos mundiais, por meio de seus dirigentes aferrados ao lucro, interferem na política dos países-sedes, modificam leis e muitas vezes desrespeitam os direitos individuais dos torcedores. Às denúncias de desvio de dinheiro público se somam episódios de descaracterizações culturais (o estádio do Maracanã, por exemplo), de restrição de circulação imposta à moradores e de militarização das cidades no período das competições – a população de Londres esteve cercada por um contingente de soldados em igual número de enviados pelos ingleses durante a Guerra do Iraque. Na África do Sul, os comerciantes foram proibidos de vender qualquer produto, próximo aos estádios, que não trouxesse o logo dos organizadores. Em Vancouver, a população assistiu revoltada ao corte em programas sociais, enquanto milhões eram gastos na construção de arenas esportivas. O livro desmistifica ainda o argumento de que as cidades se beneficiam das obras de infraestrutura exigidas pelos comitês organizadores, ao mostrar o rescaldo do desperdício verificado em países como Rússia, África do Sul e Brasil, onde o estádio erguido em Manaus já se anuncia um elefante branco bastante vistoso. Com um texto envolvente, Zirin faz desfilar, em O Brasil dança com o diabo, personagens locais, líderes comunitários e histórias de bastidores capazes de levar o leitor pelas fronteiras nebulosas do esporte de celebridades com politica de oportunidades.