O leitor encontrará neste livro as características que fizeram de Nelson Werneck Sodré um dos mais importantes intelectuais brasileiros do século XX: pesquisa rigorosa, clareza na exposiçÃúo do pensamento, conhecimento e competência no uso do método. O historiador recusa novamente, no estudo de nossa história, um tratamento épico, tÃúo ao gosto da tradiçÃúo oficial, que a sua geraçÃúo de ensaístas, aquela que reinterpreta o Brasil a partir dos anos 30, soube contraditar. Baseia-se na convicçÃúo de que, na evoluçÃúo política do país, há "um contraste singular entre os acontecimentos, que sÃúo quase sempre irrelevantes, e a profundidade de suas raízes". É o que demonstra revendo o processo histórico que precede e explica a Independência dentro do amplo quadro da revoluçÃúo burguesa e do desenvolvimento do capitalismo. Detém-se na supremacia econômica e política da Inglaterra sobre Portugal, que tem no Tratado de Methuen um de seus pilares, até chegar aos desdobramentos deste domínio no Brasil e à opçÃúo das classes dominantes locais, latifundiárias e escravistas, por uma autonomia política que nÃúo ameaçasse as estruturas de propriedade e poder, a fim de salvaguardar, em suma, a própria hegemonia. Mesmo este grande concerto de interesses, contudo, nÃúo bastou para evitar graves riscos de retrocesso político, como mostra o historiador na reavaliaçÃúo do período regencial, que encerra o livro. Publicado pela primeira vez em 1965, este ensaio é uma das produções da maturidade intelectual do autor. Aos 54 anos de idade - afastado do magistério e da vida pública pelo golpe militar de 1964, que cassou seus direitos políticos e encerrou as atividades do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), centro de debates sobre o desenvolvimento nacional de que era um dos porta-vozes mais influentes - o historiador passou a dedicar-se integralmente à pesquisa e ao ofício de escritor.