Fora do tom não é apenas a autobiografia de um dos maiores ídolos do pop, é também um relato envolvente de quem viveu por dentro o nascimento do punk e a febre do rock inglês pós-Beatles. Desde as dissonâncias que martelava no piano da avó, quando criança, passando por um rápido caso de amor com a guitarra, até finalmente se dedicar ao baixo - numa busca pela concisão -, guiando toda a sua carreira de baixista pelo "menos é mais", Sting confere à sua história um realismo raramente alcançado no gênero. Num texto despojado e auto-irônico, mas pontuado pelo humor, ele relembra o drama familiar de seus pais, as primeiras namoradas, as amizades e parcerias fundamentais - o aprendizado com Gerry Richardson, o encontro com Stewart Copeland, em Londres, e logo depois com Andy Summers - que selaria a formação definitiva do poderoso trio que pouco depois já se elevaria às paradas de sucesso como The Police. Porém as portas não se abriram imediatamente. Teve de vencer o preconceito por ser um "caipira" nascido nos confins da Inglaterra, aprender a se vestir e a lidar com o métier de um aspirante a popstar , numa carreira pautada pela obstinação e por uma fé inabalável em seu trabalho. Rica em detalhes, a parte dedicada à sua infância e aos anos de formação revela suas influências, das músicas e filmes que ouvia e assistia apaixonadamente com a mãe (quando não tinha de ajudar o pai a abastecer de leite a pequena cidade de Wallsend, no norte da Inglaterra), até os bicos como músico de big band , de um trio "geriátrico" de piano bar e os musicais de temática bíblica de que participou. Sting também nos dá uma visão abrangente da sua vida amorosa, desde a primeira namorada, Deborah Anderson -que morreria tragicamente -, passando por sua primeira esposa e agente, Frances Tomelty, mãe de dois de seus filhos, até conhecer a paixão de sua vida, Trudie Styler, com quem teve mais quatro e vive até hoje. Ao relembrar sua trajetória, às vezes penosa, rumo ao estrelato, Sting nos dá um retrato fiel da vida na estrada, tocando noite após noite em espeluncas, cabarés e pubs da Europa (como o clássico Roxy) e dos Estados Unidos (como o célebre CBGB de Nova York). Fora do tom é o relato sincero e apaixonado do talento e da persistência que fizeram de Sting um dos maiores astros de rock que a Inglaterra já produziu.