Os Lusíadas, a grande obra do poeta e soldado português Luís Vaz de Camões, está perto de completar seus 430 anos de idade. Lançada em 1572, narra a vida real portuguesa e as conquistas ultramarinas dos seus bravos navegantes. E para comemorar mais um aniversário dessa grande obra, a Editora Nova Fronteira está lançando Estudos camonianos, de Cleonice Berardinelli, em uma edição totalmente revista e ampliada e que reúne um conjunto de ensaios produzidos ao longo da vastíssima e conceituada carreira da autora. São ensaios sobre a épica, a lírica, o teatro e as mais recentes discussões da vida e obra de Camões, para quem o feito heróico é mais que a batalha corpo a corpo, lança contra lança, espada contra espada; é também a luta contra as ondas e as correntes, o vento e as calmarias, a peste e a fome e o medo do desconhecido. Nesses novos Estudos - a primeira edição foi lançada em 1972, durante as comemorações do 4º Centenário d'Os Lusíadas, no Rio - Cleonice Berardinelli conta que o autor português trouxe para a sua obra a nudez sem disfarces, que só se aceitava anteriormente na arte pagã: "Era escandalosa a obra do ponto de vista ético-religioso, mas não só: era-o também no questionamento da ideologia vigente." As batalhas são temas constantes na obra de Camões, embora Cleonice centralize sua análise nas três mais notáveis, no campo político e religioso, que foram as de Ourique, Salado e Aljubarrota, sendo a primeira a mais violenta de todas. "...Golpes se dão medonhos e forçosos, Por toda a parte andava acesa a guerra; Mas o de Luso arnês, couraça e malha Rompe, corta, desfaz, abola e talha. Cabeças pelo campo vão saltando, Braços, pernas, sem dono e sem sentido, E d'outros as entranhas palpitando, Pálida a cor, o gesto amortecido." Seguindo a tradição épica, Camões utiliza n'Os Lusíadas mais de um narrador. Um narrador global introduz os narradores secundários ou narradores-personagens, que temporariamente assumem a narração. E, nessa linha, o narrador secundário mais importante é Vasco da Gama, que apresenta três cantos quase integralmente. Mas quem é, na verdade, Luís de Camões? A resposta mais imediata o define como o autor d'Os Lusíadas. Alguns poderão até se lembrar de que o primeiro verso é "As armas e os barões assinalados", mas para a autora muitos serão capazes de ir adiante, reconhecendo Camões não apenas pelo seu nome, mas, principalmente pelo teor da sua obra. E essa edição de Estudos camonianos cumpre muito bem o seu objetivo, lançando novas e importantes discussões sobre o trabalho de um dos maiores poetas da língua portuguesa de todos os tempos.