Consagrado como um dos mais importantes romancistas portugueses, indicado ao Nobel de Literatura e vencedor do XIV Prêmio Internacional União Latina de Literatura de 2003, António Lobo Antunes exerce com mestria a arte de encantar o leitor, através de uma narrativa subversiva e radicalmente original. Neste novo e ambicioso romance, a temática recorrente e essencial de sua obra – Angola – reaparece em época de pós-descolonização. Monólogos, recordações pessoais e fluxos de consciência evocam os absurdos e as dolorosas experiências de guerra. Boa Tarde às Coisas Aqui Em Baixo é apresentado em três livros com prólogo e epílogo. Cada livro narra acontecimentos referentes à viagem de um novo agente de espionagem ao país africano. Nos dois primeiros livros, o autor destaca o ponto de vista das classes dominantes, representadas pelos personagens Seabra e Migueis. O leitor nunca saberá a identidade do terceiro agente (Morais ou Borges) e, por isso, o terceiro livro apresenta uma pulverização de vozes narrativas. Estes três homens são sucessivamente incumbidos de uma tarefa delicada e secreta. A missão de cada um deles consiste em contrabandear diamantes, recuperando e trazendo para Portugal as pedras preciosas roubadas que não puderam ser enviadas de Angola. À medida que um mensageiro falha é substituído pelo seguinte, partilhando todos o mesmo destino fatal que os impede de regressar a Portugal. Lobo Antunes leva ao extremo a subversão da estrutura narrativa. Cada capítulo se compõe de frases que vão criando melodias e ritmos insuspeitos que conduzem a uma leitura vertiginosa. Acompanhando quase que visceralmente as experiências dramáticas dos personagens na Angola pós-guerra, o leitor é convidado, mais uma vez, a ser cúmplice da elaborada arquitetura literária do autor, já que caberá a cada um reorganizar os blocos narrativos para reconstruir a trama deste romance instigante e original.